A inclusão financeira – sua eficácia, implicação e urgência – está se tornando um dos maiores pontos de discussão do nosso setor. E isso é uma coisa boa. Quanto mais foco estiver sobre a questão, maior será a probabilidade de nós, como coletivo, promovermos nossa agenda.
No entanto, ainda há dúvidas sobre o que significa exatamente inclusão financeira. Para alguns, está intrinsecamente ligado à demografia; para outros, é sobre política. A maioria das interpretações não está errada e quase todas são bem-intencionadas, mas talvez a definição mais clara e sucinta venha do Banco Mundial:
“A inclusão financeira significa que os indivíduos e empresas têm acesso a produtos e serviços financeiros úteis e acessíveis que atendem às suas necessidades – transações, pagamentos, poupança, crédito e seguro – entregues de forma responsável e sustentável.”
Sem esse “acesso a produtos e serviços financeiros úteis e acessíveis”, as pessoas podem não ter um lugar seguro para armazenar dinheiro, nenhum meio eficaz e gratuito de receber pagamentos e nenhuma maneira segura e confiável de fazer pagamentos.
E embora grandes avanços tenham sido feitos em torno da inclusão financeira, ainda há um longo caminho a percorrer. De acordo com os dados mais recentes da Findex, ainda existem cerca de 1,7 bilhão de adultos no mundo sem acesso a serviços financeiros básicos.
Inclusão Financeira na África
Obviamente, a inclusão financeira não é um desafio limitado a um determinado país, região ou continente; em vez disso, afeta áreas em todo o mundo. No entanto, para os fins deste artigo, vamos examinar a inclusão financeira na África e como o empréstimo digital pode ajudar a melhorar a vida financeira de milhões de africanos.
De acordo com a Global Finance, 50 por cento da população africana não tem banco, o que equivale a 350 milhões de pessoas. Este já é um problema que precisa ser resolvido, mas com a população africana crescendo rapidamente – deve dobrar nos próximos 30 anos, acrescentando mais 1 bilhão de pessoas – pode rapidamente ir de mal a pior.
O papel do digital na expansão do acesso
Estender o acesso aos mutuários que, de outra forma, provavelmente não o receberiam é fundamental para melhorar a saúde de uma sociedade. Entre todos os serviços financeiros, o acesso ao crédito é talvez o mais importante, pois é um multiplicador de força. Para esse fim, estratégias digitais inovadoras e novas tecnologias estão permitindo que os credores alcancem as pessoas tradicionalmente carentes ao mesmo tempo em que protegem seus próprios interesses.
Na verdade, o uso de big data, inteligência artificial, aprendizado de máquina e soluções habilitadas para serviços bancários abertos está expandindo o escopo do que é possível. Graças aos novos produtos e às crescentes taxas de penetração da Internet, as limitações geográficas estão sendo superadas. Ferramentas de análise de dados mais sofisticadas foram disponibilizadas online e estão permitindo decisões de crédito mais fáceis em vez das pontuações de crédito tradicionais.
Isso é particularmente relevante para empréstimos na África, onde o acesso a agências físicas é um problema para muitas pessoas. Em um whitepaper recente publicado pela Sopra Banking, explicamos como o aumento dos usuários de dinheiro móvel na África é uma oportunidade e um desafio que muitas instituições financeiras estabelecidas ainda precisam enfrentar.
Felizmente, isso está mudando e muitos credores estão surgindo com soluções que lhes permitirão fornecer empréstimos digitais a seus clientes de uma forma segura e eficaz para todas as partes. Com a introdução do vídeo KYC (know your customer – conheça seu cliente) e agregadores de contas, os credores podem acessar facilmente os dados do cliente com permissão e conduzir melhor a devida diligência. E a digitalização de todo o ciclo de vida do pedido de empréstimo significa que os mutuários podem solicitar empréstimos remotamente – um benefício em termos de redução do atrito e expansão do alcance.
Clientes novos para crédito (NTC – New-to-credit)
Historicamente, as instituições de crédito têm sido cautelosas com os consumidores NTC, devido à falta de histórico de crédito para avaliar sua probabilidade de inadimplência. No entanto, dados os avanços tecnológicos, os credores podem agora emprestar com mais confiança aos tomadores de NTC. Eles podem fazer isso aproveitando algumas das soluções mencionadas acima, soluções que oferecem novas maneiras de analisar dados, prever a qualidade de crédito de um cliente e avaliar o risco envolvido no empréstimo.
A análise de dados móveis e da web torna possível oferecer crédito a pessoas físicas e PMEs (pequenas e médias empresas) sem pegadas financeiras. Na última década, essa prática surgiu e realmente se popularizou na África, onde fintechs, instituições de microfinanças e instituições financeiras tradicionais como NCBA Group, Equity Bank e Orange Bank usam dados de SMS para informar as decisões de crédito.
Embora os sistemas de pontuação de crédito alternativos sejam muito promissores, eles também trazem questões de privacidade e confiabilidade de dados. E, em pelo menos um caso, levaram a um grande grupo de tomadores de empréstimos digitais a assumir níveis insustentáveis de dívida.
Open banking como catalisador
Do lado regulatório, o open banking também está impulsionando a melhoria nos processos de empréstimo. Com acesso a mais dados (incluindo dados não financeiros), os credores podem fazer pontuação de crédito e avaliação de risco aprimoradas. Isso fornece uma visão adicional, permitindo que os credores avaliem a elegibilidade do mutuário com mais precisão. Isso não apenas reduz os custos para o credor, mas melhora a experiência do cliente e, por ser digital, funciona em locais sem infraestrutura existente.
Para aqueles com maior probabilidade de ter o crédito negado, o processo de inscrição do empréstimo sub-prime (empréstimos de segunda linha com maior risco de inadimplência) ainda pode ser pesado, envolvendo a apresentação manual de holerites ou extratos. Além disso, o COVID-19 ressaltou o quão ineficientes os processos tradicionais de empréstimo são.
Como um antídoto, o open banking está promovendo soluções que tornam mais fácil verificar os detalhes do cliente em tempo real – em alguns casos, chegando a automatizar toda a interação. Isso torna o processo mais fácil para o usuário e aumenta significativamente as chances de as inscrições serem aceitas.
A boa notícia é que os bancos africanos estão percebendo a abertura do sistema bancário e começando a dar grandes passos na promoção de sua implementação. Por exemplo, em 2020, o Banco Central do Quênia – um país onde 44% da população não tem acesso a banco – incluiu o open banking como um de seus principais objetivos estratégicos; e no ano passado, no auge da pandemia, a startup nigeriana Okra anunciou que havia recebido financiamento significativo para desenvolver uma infraestrutura open banking.
Tais desenvolvimentos estão se tornando cada vez mais comuns em toda a África e são um bom presságio para o futuro da inclusão financeira em todo o continente.
Olhando para o futuro
O empréstimo digital está redefinindo a dinâmica do mercado de crédito na África. Com uma base de custos mais baixa e alcance melhorado, as instituições financeiras – incluindo bancos, MFIs, neobancos e empresas de telecomunicações – podem simplesmente fazer mais com menos. O empréstimo digital reduz o custo da oferta de serviços e agiliza a integração. Ele também permite a aprovação instantânea e remota e oferece suporte a mecanismos baseados em dados para iniciar o reembolso. Ao mesmo tempo, o open banking facilita maior acesso aos dados do que nunca e desbloqueia novos casos de uso.
Em última análise, expandir o acesso ao crédito requer um planejamento cuidadoso e é mais uma jornada do que um destino. O uso de pontuação de crédito alternativa ainda está em sua infância e o open banking tem apenas alguns anos. Na melhor das hipóteses, o crédito digital pode ser responsável, inclusivo e acessível. E é algo pelo qual todas as instituições financeiras devem se esforçar, pois não apenas ajuda indivíduos e comunidades, mas também impulsiona o crescimento econômico.